sábado, 19 de maio de 2012

Cidade EPIDEMIA População reconhece grande parte da culpa

nquanto esperam atendimento, pacientes admitem que as pessoas poderiam fazer mais contra o mosquito
Epidemia de dengue declarada. E agora, a culpa é de quem? Para as pessoas que estão nas emergências dos hospitais secundários, terciários ou postos de saúde de Fortaleza, boa parte da responsabilidade é da própria população.

Foi o que declararam os pacientes que estavam, ontem, na fila de espera por atendimento no Centro de Saúde da Família (CSF) Terezinha Parente, no bairro Curió, nos Hospitais da Unimed e Gonzaguinha de Messejana, no São João do Tauape e Messejana, respectivamente.

"Do que adianta eu fazer a minha parte se o meu vizinho não faz? Já reclamei várias vezes da água parada que eles deixam acumular, assim como o lixo. Mas, depois, parei, fui alvo de ofensas e fiquei com medo, pois moro sozinha com minha filha", declarou a lavadeira Antônia da Silva, 45 anos.

Ela mora no bairro Edson Queiroz e está com a filha, Mikaele Alves da Silva, 11 anos, infectada pela doença. Há uma semana, as duas comparecem diariamente ao Gonzaguinha de Messejana para realizar hemograma da criança e hidratá-la.

Epidemia

O Gonzaguinha de Messejana atendeu 77 pessoas com sintoma de dengue oto: Rodrigo Carvalho

Situação similar vive a comerciante do bairro Curió, Suelem Holanda, 30 anos, que há três dias se dirige ao CSF Terezinha Parente para tratamento de dengue. Ela conta que já cansou de insistir com a vizinhança local e disse que a situação piora com a irregularidade no abastecimento de água existente no bairro, o que força a população a acumular a água em potes.

"A gente sabe que aqui tá lotado, que tem fila e que vai demorar para ser atendido. Mas ninguém estaria aqui se cada um cuidasse da sua casa. Hoje, eu já nem falo mais nada, pois, quando comento algo a respeito, parece até que eu sou a errada", conta a comerciante.

A dona de casa Isabel Cristina Viana, moradora do Bairro de Fátima, compartilha da mesma visão. Ela acredita que o governo municipal tem a sua parcela de culpa, no sentido de fiscalizar mais essa questão dos focos de dengue na cidade. "Com uma visita mais constante às casas e aplicação de multas, eu acredito que esse cenário mudaria".

"Mas sei também que a falta de consciência da população é grande. A começar pelo cuidado com a sua própria casa, e não deixar criar focos do mosquito, assim como colocar o lixo no dia certo da coleta, mas não é o que acontece. E isso a gente aprende todo dia, até as crianças quando voltam da escola nos falam", acrescenta Isabel Cristina.

Demanda

No Gonzaguinha de Messejana, somente nesta primeira quinzena de maio, já foram atendidos 377 pacientes com sintomas de dengue. Já em janeiro, esse número estava em 21.

A responsável pelo Núcleo de Epidemiologia da unidade, Maria Glêdes Ibiapina, acrescentou que a tendência é que esse quantitativo aumente. "Apesar de termos uma boa estrutura, com equipe de enfermagem, hidratação, médicos, mesmo assim, é preciso mais, pois sabemos que a cobertura de saúde na região não é suficiente", destacou.

No CSF Terezinha Parente, das 50 pessoas atendidas ontem, todas eram suspeitas de dengue. De acordo com a chefe da enfermagem da unidade, Valéria Cristina, são realizados, diariamente, cerca de 100 exames sorológicos para a doença.

"Temos encaminhado um ou outro paciente para atenção secundária, mas a maioria que confirma a doença é tratado aqui", destaca Valéria.

Já o Centro de Especialidades Médicas José de Alencar (Cemja) fez 901 exames de dengue entre o dia 5 e 17 de maio, número que não inclui hospitais conveniados da Prefeitura.

Comparação
Sobre a situação do atendimento de emergência do Hospital Regional Unimed, a cooperativa informa que, no mês de março, foram atendidos 11 mil pacientes e, em abril, o número passou para 16 mil. Neste mês, a previsão é que sejam atendidos 18 mil, ou seja, um aumento de 63% em relação há dois meses.

Como método comparativo em épocas normais, o atendimento diário era de 382, passando para 600, devido à demanda de virose e dengue. Sobre os casos de dengue, durante este ano, de janeiro a abril, foram confirmados 276 casos.

Para receber a demanda crescente, o hospital adotou novas medidas como reforço do atendimento laboratorial, médico e enfermagem, e criação do Consultório para Controle da Dengue, que visa o acompanhamento dos casos da doença, onde é realizada consulta médica e exame para detalhamento da evolução do quadro, evitando que o paciente retorne à emergência.

Em relação ao abastecimento de água no bairro Curió, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) afirma que serviços de melhoria estão previstos.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Atenção básica no Ceará precisa ser priorizada

Antônio Carlile Holanda Lavor
Coordenador da Fundação Oswaldo Cruz/ CE

A rede de saúde, seja ela pública ou privada, passa por uma grande dificuldade no atendimento. Qualquer hospital está super lotado, mesmo sem ser epidemia, o Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal deles, pois tem uma maior demanda.

A questão está na atenção básica, que não tem sido priorizada pelas gestões, mesmo sendo uma determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1978. Na época, ficou claro que esse sistema pode ser bem desenvolvido por todos os países, mesmo aqueles mais pobres. Porém, não é prioridade.

Caso fosse, grande parte dos problemas na saúde seriam resolvidos ou não existiriam. Como, por exemplo, a dengue. Se tivéssemos uma atenção básica estruturada, não estaríamos vivendo uma epidemia. A atenção básica não cuida apenas do tratamento, mas da prevenção.

Os agentes de saúde e endemias, a equipe de enfermagem, médicos e odontólogos, além dos auxiliares administrativos, compõem essa equipe.

O Ceará foi pioneiro na implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), porém, priorizou a atenção terciária, essa, diga-se de passagem, muito mais cara e que abrange uma parcela pequena da demanda.

A rede primária de saúde tem menos custo, mas tem que ter gente que diga como é a prevenção. Um grande trabalho que se desenvolveu no Brasil foi o convencimento à vacinação, e isso foi um trabalho continuado feito pelos agentes de saúde. Mas hoje, o agente não é capacitado para a dengue, para prevenção e combate.

Prefeitura vai recorrer ao Ministério da Saúde

A titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ana Maria Fontenele, declarou, ontem, que já foram gastos, somente neste ano, para a prevenção e combate a dengue na Capital, R$ 6 milhões, fora os R$ 2,9 milhões enviados pelo Ministério da Saúde em março deste ano. "Já entramos no dinheiro do tesouro municipal, por isso, iremos recorrer ao Ministério em busca de mais verba", declarou.

A notícia veio com o início da avaliação do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), do Ministério da Saúde, em todas as unidades primárias de saúde do Ceará.

Em Fortaleza serão avaliadas 56 equipes do programa Saúde da Família (PSF) e, caso o resultado seja ótimo, o recurso da Atenção Básica poderá dobrar. Hoje, o Piso da Atenção Básica (PAB), destinado a Capital, é de R$ 95 milhões. Com a adesão das 56 equipes ao programa, o município já recebe um acréscimo de 20% no PAB, que é o chamado de PAB Variável.

Segundo o diretor do Departamento Nacional de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Hêiber Pinto, serão avaliados infraestrutura, boa ambiência, tempo de espera, remédios disponíveis na unidade, e investimentos em qualificação.

THAYS LAVORR
REPÓRTER

Fonte:Diario do Nordeste

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