Choveu 62,1 milímetros em abril deste ano no Ceará. A média deste mês é a menor registrada para um mês de abril desde 1980, quando choveu 55,5 mm no Estado. Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). As chuvas de abril ficaram 70,8 % abaixo do esperado para o mês, um dos mais chuvosos historicamente. No dia 29 de abril, por exemplo, a Funceme não registrou chuva em nenhum município do Estado.
No Sertão Central e Inhamuns, a situação de falta de chuvas é ainda mais grave. Choveu 32,1 mm em abril, marca que se aproxima da pior média já registrada nas duas regiões desde 1958: 29 mm. No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, choveu 267,8 mm nas duas regiões, 50,3% abaixo da média histórica para o período.
No Vale do Jaguaribe, choveu 32,7 mm em abril deste ano, 83,4% a menos do esperado para o mês. O pior registro de chuvas na região, em um mês de abril, foi de 32 mm, também em 1958.
A meteorologista da Funceme Cláudia Rickes explica que a falta de chuvas se deve ao afastamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), sistema de nuvens que provoca chuvas para o norte do Nordeste e Amazônia.
“Nesse período do ano, normalmente ela se desloca para o sul da linha do Equador. Mas a temperatura superficial do oceano Atlântico tem interferido”, aponta. Segundo Cláudia, as águas do Atlântico Sul estão mais aquecidas do que no Atlântico Norte, o que não favorece a ocorrência de nuvens de chuva no Nordeste.
Outros dois fatores, segundo Cláudia, têm influenciado a não ocorrência das chuvas: a ação de uma massa de ar seco com alta pressão, denominada Oscilação Madden-Julian, e o enfraquecimento do fenômeno La Niña, que esfria as águas do Pacífico Sul. “Esse fenômeno favorece as chuvas (no Nordeste), mas o La Niña está enfraquecendo”, detalha.
Água e luz
Períodos secos no Ceará geralmente são acompanhados por aumento nos consumos de energia e água. Em fevereiro de 2010, ano de seca no Ceará, Fortaleza atingiu recordes de consumo de água e energia.
Nos três primeiros meses deste ano, a Companhia Energética do Ceará (Coelce) registrou aumento de 11,7% no consumo, no Estado, em relação ao primeiro trimestre de 2011. Foram consumidos 2.347 GWh (Gigawatts-hora) de janeiro a março deste ano. O maior crescimento de consumo foi entre moradores da zona rural, com resultado 36,9% superior ao de 2011.
O consumo de água também aumentou no Estado. Segundo a Companhia de Água e Esgoto no Ceará (Cagece), o aumento foi de 6,9% nos dois primeiros meses do ano, em comparação ao primeiro bimestre de 2011.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Ministério da Integração Nacional anunciou envio de R$ 199,9 milhões ao Ceará para ações emergenciais de assistência à população afetada com a seca. Além disso, cerca de R$ 1 bilhão deverá ser investido até 2014 em programas de enfrentamento à estiagem.
Número
62,1 mm
Foi a média de chuvas no Ceará em abril deste ano. Marca é a menor desde 1980Serviço
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme)
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 1246, Aldeota. Fortaleza-CE Telefone: (85) 3101 1088
www.funceme.br Saiba Mais
Conforme O POVO mostrou na edição do último dia 29, as perdas nas colheitas são quase totais em municípios do Sertão Central e Inhamuns, além de Campos Sales e Salitre, no Cariri. A situação de abastecimento de água é crítica em cidades como Quiterianópolis, inclusive na sede, e Boa Viagem, na zona rural. De acordo com o secretário estadual do Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, a estimativa é de que metade da safra de feijão do Estado esteja perdida. As perdas nas colheitas de milho chegam a 57%. E a tendência é o aumento das perdas nos próximos meses.
Pelo menos onze municípios cearenses decretaram situação de emergência em abril, mas nem todos tiveram a situação reconhecida pela Defesa Civil Estadual, por falta de documentos que comprovem a dificuldade de acesso da população à agua. A Defesa Civil Nacional está analisando os decretos de situação de emergência dos municípios de Iracema, no Vale do Jaguaribe, e de Quixeramobim, no Sertão Central. Até ontem, 18 açudes estavam com menos de 30% da capacidade de armazenamento, segundo monitoramento da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
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